quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Uma visão que acalma





Hoje fui pego por um pensamento que fez meus olhos brilharem mais uma vez. Uma forma de ver a vida que deixa tudo muito simples. Ora, todos sabemos que viver em uma outra cultura, longe dos seus, tem seus dias de percalços. Às vezes, a vista ameaça acinzentar. A barreira linguística e cultural parece encumpridar-se. Em tal estado de espírito, as diferenças ficam mais evidentes, incomodam. Estar se sujeito a esquecer-se de tantas vitórias conquistadas pelo caminho. Questionar-se o valor pessoal. Não valorizar a coragem empregada na lida dos desafios. Por outro lado, trata-se também de uma oportunidade para aprofundar a relação com si-mesmo. Hora de acertar o leme. Acertar o prumo. 

E se, repentinamente, busca-se enxergar além de tudo isso?! Uma visão que ultrapasse as nuvens escuras que rodam os pensamentos. Uma visão real, mas que, também, aprecia e acalma, pois reconhece que tais atributos são fundamentais para se encontrar o real. E se, com um esforço inicial, como que para conseguir um limiar de ativação, passo a reparar nas semelhanças, numa visão de mundo bem mais ampla, que reconhece no outro um írmão, e a vida, assim,  parece fluir melhor e pulsar mais viva ?!  Írmãos de todos os países, todas as linguas e etnias. Todos aprendendo a sermos humanos. Cada um com seus dramas, defeitos e virtudes, na luta pela vida. O que parece apenas um momento de epifânia ou lampejo de luz quem sabe um dia se eternize. Uma visão que acalma, amplia a percepção e aproxima, dando um sentimento de pertencimento, igualdade e irmandade. Sou mais um nesse mundão de Deus, buscando vencer os desafios e ser feliz. E a vida anda. O mundo gira. Tantas coisas acontecendo. Notícias de cá e de lá. Em meio a tudo isso, fico feliz com boas notícias que recebo. No mais, é ir tocando o barco e seguindo em frente.





domingo, 16 de junho de 2013

Uma saudade, uma viagem.






Há uns dias que penso em escrever a respeito da saudade. Como expressar o significado dessa palavra? Acredito que ninguém tem mais propriedade para falar de saudade do que a poesia. No entando, não sou um conhecedor da poesia lida, mas posso dizer que, como todo brasileiro, conheço um pouco de poesia musicada. Por tanto, valho-me um pouco desta e de mais o que me vier a memória para escrever.

"A saudade é uma estrada longa"- frase que logo me vem ao pensar no assunto.  Ela expressa que há um caminho a ser percorrido por quem sente saudade. Mas um caminho para onde? A saudade sempre aponta para algo além dela própria.  Sente-se saudade de algo ou de alguém. Surge então a pergunta: será a saudade a presença de uma ausência ou a ausencia de uma presença? Creio que nem uma dessas opções separadamente seja completamente satisfatoria. Talvez as duas juntas façam sentido.

O que me parece mais nítido é que a saudade se fundamenta num bem-querer. O cantador sabiamente diz  "quem tem amor tem saudade, quem tem saudade quer bem". Penso que a saudade é um sinalizador de que a pessoa que a sente não é vazia, pois tem amor dentro de sim. Além disso, a saudade pode apontar para as nossas raízes. Sendo, por tanto, uma forma subjetiva de reconhecer e valorizar quem veio antes da gente, nossas origens.

Será possível sentir saudades de um tempo que não vivemos? Já li em um livro em que um dos personagens, que era escritor, sentia saudades de tudo o que ele não tinha vivido, pois ele sentia que ele poderia ter tido profissões muito diferentes daquela que escolheu, ou mesmo ter seguido muitos caminhos diferentes na sua vida. Achei a conversa dele interessante (hehehe). Quem sabe faz sentido. 

Há umas semanas atrás fiz uma viagem de ônibus, tive a oportunidade de, olhando a paisagem, pensar e perceber a importância de tantas pessoas na minha vida. Pais, irmãos, família, amigos (velhos e novos). Nossa vida só é possivel por que vivemos em sociedade. E se temos uma rede de bons relacionamentos, isso favorece para que tenhamos uma vida mais preenchida.  Há tantas pessoas importantes na minha vida, cada uma com o seu jeito, a sua história. Certamente, tenho muito a agradecer pelas pessoas que venho encontrando no meu caminho. 

A saudade pode nos impulsionar para frente, nos inspirando no sentido de enfrentarmos os desafios da vida com mais disposição, mais fortalecidos. No entanto, se demasiada, a saudade pode apertar. Impedir que a pessoa viva o presente. Como diz outra música: "saudade assim faz doer e amarga que nem jiló". Mas a mesma música propõe um solução, um remédio simples para tal saudade: "saudade o meu remédio é cantar". O "cantar" pode ser entendido de uma forma mais ampla como algo que a pessoa gosta de fazer, uma atividade, um hobby, um talento. Em resumo, manter uma agenda positiva e a mente ocupada. "Saudade o meu remédio é cantar".

A saudade é principalmente um sentimento que liga as pessoas, indicando que não se está sozinho no mundo. Tem se alguém com quem contar, alguém que lhe "deu a mão e não pediu nada em troca". 

"...Ainda hoje, ainda bem no caminho, tem alguém, mais alguém, muito mais. Canto alegre não sigo sozinho, uma velha canção...".

sexta-feira, 31 de maio de 2013

A respeito do livro Demian de Herman Hesse






Recentemente, terminei de ler um dos livros dos escritor Herman Hesse. Esse chegou até mim por indicação de alguém que conheci em uma das viagens que fiz. A obra chama-se Demian e é fortemente influenciada pela psicologia junguiana. Escrevo com o intuito de relembrar o que li e ver o que ficou para mim de tal leitura.

O livro trata da história de Sinclair, um garoto proveniente de família burguesa e religiosa, fundamentada em fortes valores morais. Na sua meninice, passou a andar com garotos afeitos a maldades. Para enturmar-se inventou mentiras, que passaram a ser verdade, pois foi ameaçado e teve que pagar tributos por isso. Passou a fazer pequenos furtos em casa, o que o atormentava e o distanciava cada vez mais de seus pais. Sentia que não compartilhava mais do mundo deles, pois estava manchado.

Leva a vida atormentado até que um dia conhece um misterioso colega de classe que o ajuda a se livrar de seu opressor. Esse novo mistérioso colega era Max Demian, que chamava atenção por sua maturidade, auto-confiança, segurança em suas opniões. Demian tinha técnicas que usava para ler o pensamento das pessoas e também, quando achava necessário, as fitava com firmeza de modo a inibir suas reações. Passou a despertar em Sinclair uma visão de um mundo diferente, que ele ainda não sabia ao certo o que significava.

Os dois, posteriormente, distanciaram-se. Sirclair segue sua vida estudantil num colégio interno. Passa a frequentar as tabernas, perde o gosto pelos estudos, leva uma vida boêmia e noturna. Chega as proximidades de ser convidado a sair do colégio, a autoridade de seu pai já não lhe tinha mais efeito. Ele parecia apenas afundar na escuridão.

Certo dia, depara-se com uma moça que chama a sua atenção e passa a cultivar por ela um amor platônico. Isso é o bastante para ele reorganizar sua psiqué e sair das trevas em que vivia, mudando repentinamente seu estilo de vida, sem precisar dar explicações para os que o rodeavam.

Seus sonhos passam a chamar-lhe atenção. A figura de um pássaro lhe é bastante frequente. No entanto, ela tende a aparecer condensada junto a imagem de Demian e a de uma mulher. O que passa a ser um enígma para Sinclair, que numa tentativa de decifrá-lo, envia a Demian, por correio, essa figura onírica por ele próprio pintada. No entanto, não recebe resposta de Demian. Porém, ao longo de seu trajeto de vida, vai encontrando pessoas que vão contribuindo de diferentes formas para o desenvolvimento de sua personalidade. 

Finalmente, as coincidências da vida o levam a encontrar o amigo de infância Demian e sua mãe. Sinclair passa a frequentar a casa deles e a amadurecer suas idéias sobre a vida e sobre si mesmo. Uma nova foma de ver o mundo vai se descortinando para ele. Enxergam a humanidade como "um futuro distante para o qual todos caminhavamos, sem que ninguém conhecesse sua imagem e sem que se encontrassem escritas suas leis em parte alguma". Buscavam o caminho da individuação que naturalmente distanciava-se do conforto das massas ou da vida no rebanho. Acreditavam que precisavam se preparar para que quando o destino precisasse deles pudessem ouvi-lo e cumprir com o seu chamado. 

Há no livro diálogos  interessantes como o da mãe de Demian(Eva) com Sinclair:

- Sempre é difícil nascer. A ave tem de sofrer para sair do ovo, isso você já sabe. Mas volte o olhar para trás e pergunte a si mesmo se foi de fato tão penoso o caminho. Difícil, apenas? Não terá sido belo também? Pode imaginar outro tão belo e tão fácil? 

Movi, dubitativo, a cabeça.

- Foi penoso - disse como adormecido - , foi penoso até que veio o sonho. 

Assentiu e fitou-me penetrantemente. 

- Sim, temos que encontrar o nosso sonho e então o caminho se torna fácil. Mas não há nenhum sonho perdurável. Uns substituem os outros e não devemos esforçar-nos por nos prender a nenhum. 

Essas palavras surpreenderam-me profundamente. Seria uma advertência? Um repulsa já? Tanto fazia. Estava disposto a deixar-me guiar por ela sem perguntar para onde. 

- Não sei - repliquei - quanto tempo durará meu sonho. Desejaria que fosse eterno. Sob a imagem familiar de meu pássaro, o destino me recebeu como mãe e amada. A ele pertenço só a ele.

- Desde que o sonho seja seu destino, você deve permanecer-lhe fiel - confirmou ela, gravemente. 

........

Portanto, o livro, ao tratar da história de Demian, fala de alguns pontos que são comuns a muitas pessoas como a importancia dos sonhos, etapas do processo de individuação ou do desenvolvimento da personalidade, a busca por um sentido na vida, a importancia de se encontrar pessoas que nos ensinem e nos guiem de alguma maneira. E por mais que o caminho as vezes pareça penoso, não poderia ser mais belo, mais facil ou mais eficiente. 












quinta-feira, 16 de maio de 2013

1/3 da missão cumprida



Nossa, quase não consigo acreditar. Um terço da estrada cumprida. Hoje terminei o meu primeiro semestre do programa ciências sem fronteiras nos EUA. Graças a Deus estou dando conta dos desafios, e acredito que crescendo ao enfrentá-los.

Os desafios são pequenos e cotidianos como estudar estatística ou psicopatologia em Inglês, expressar sua opnião sobre o trabalho de um colega para a turma, dar direções a alguém que pergunta, sustentar uma conversa com alguém com uma cultura diferente da sua, participar de uma entrevista de estágio com um professor que você nunca viu, planejar com antecedencia suas viagens, controlar o dinheiro, lidar com as instabilidades climáticas, saber como se portar diante de conflitos entre colegas, dividir apartamento com até então estranhos, fazer novos amigos, preencher formulários, atenção a prazos, falar com orientadora, praticar esporte, manter o bom humor, planejar semestre.etc Além de tudo isso, administrar a saudade e manter a mente quieta, acesa e motivada.

Sim, tem sido uma experiência boa. Não tenho do que reclamar. Por vezes me pergunto se estou aprendendo e crescendo nessa empreitada. Acho que os marcos, como o fim do semestre, servem para percebermos que houve um caminho percorrido nesses meses que estou aqui. Cheguei sem saber de nada, hoje estou um pouco mais adaptado a esse contexto. 

Lembro que da outra vez que estive nos EUA, fazendo intercâmbio em Des Moines, na high school , algumas pessoas me falavam que seria bom se eu tivesse ficado mais tempo, pois o primeiro semestre é um periodo de adaptação, depois disso as coisas começam a fluir mais. Alguns colegas que conheci estão voltando para o seus países após um semestre aqui. Às vezes, parece me que já vão muito cedo, no meio de seu processo de crescimento e adaptação. Talvez fosse melhor se ficassem mais tempo, talvez não, não sei.  No entanto, cada um tem o seu momento. Naquela época acho que eu não estava preparado para ficar mais de um semestre.

Digo isso por que, às vezes, parece que, repentinamente, num estalo de dedos, o seu inglês começa a melhorar, você começa a ter mais facilidade e naturalidade ao se comunicar com as pessoas e sente- se mais pertencente àquele, até então, estranho contexto. Parece mesmo que o cérebro da gente dá um salto acomodando as informações adquiridas numa nova estruturação. Sei que a estrada é longa e ainda há muito  mais o que aprender. Percebi também que pequenas atitudes como o esforço para puxar conversa com um estranho pode favorecer muito esse processo. Creio que isso possa ser aplicado também a outras áreas da vida. Escrevo também como um registro de tal percepção. Creio que aqui se fecha um ciclo e se inicia outro. Abraço aos amigos e parentes. 







domingo, 28 de abril de 2013

Pequenos gestos de generosidade






Falo de coisas pequenas, pois acredito que a vida compõe-se delas. Pequenos momentos, atos ou gestos. Algo desse tipo pode transformar aos poucos uma triste paisagem, numa aquarela de cores.

Recentemente, por meio de um grupo que conheci, eu e mais três amigos tivemos a oportunidade de participar de um trabalho voluntário: ajudar a fazer a mudança da mobília de uma organização que ajuda pessoas carentes.

Foi um dia bem agradável, no qual um numero considerável pessoas de diversas nacionalidades (os americanos estavam em maior quantidade) se juntou com um objetivo em comum. Dentro de pouco tempo, o que eram antes desconhecidos, estavam trabalhando juntos, num clima de alegria, irreverência e cooperação. Diferenças culturais, que muitas vezes dificultam as interações, foram esquecidos em nome de um objetivo maior naquele momento. E, modéstia parte (hehehe), fizemos um trabalho muito bem feito e em relativamente pouco tempo. No final do dia, todos estavam cansados, mas com um sorriso no rosto e uma sensação de bem estar. Um dia de trabalho pesado foi, na verdade, um dia muito leve e alegre, que nos permitiu perceber a grande força que se manifesta quando as pessoas trabalham em conjunto por um ideal maior.

Cheguei a conclusão que nós voluntarios é que fomos os grandes beneficiados dessa boa ação, pois ela nos fez muito bem. Se pararmos para pensar, muitas vezes, não custa nada ser mais genoroso com as pessoas e contribuir para fazer circular esse movimento no mundo. 



Compartilho esse belo vídeo relacionado com o tema:











quinta-feira, 25 de abril de 2013

As árvores




Penso eu que as árvores são belas em todos os lugares. Cada uma a seu modo. Tenho tentado observa-lás nessas coordenadas onde estou localizado. Por vezes me pego pensando como pode ser possível, nesse clima tão rigoroso,  elas se manterem vivas e imponentes, mesmo  que num estado de recolhimento,  pois a maioria se despreende de suas folhas, numa lição de desapego.

Ao olhar de perto as marcas em suas supérficies me questiono: quantos invernos será que cada umas delas atravessou?! Notavelmente, muitos. Essa pele aspéra e enrrugada, marcada pelo tempo, chega a lembrar-me de senhoras e senhores. Há  todo um percurso refletido em cada árvore. A semente, que vem do fruto , que vem da flor, vira pequena árvore- capaz de ir vencendo desafios, perpetuando e expandindo a vida. 

Existem pessoas que dizem que a árvore simboliza crescimento e expansão. Quem sabe por isso o termo árvore genealógica?! A vida está em movimento. A árvore que olho continua o seu processo diário de viver. Mais uma primavera, as flores celebram a chegada do sol caprichando em suas cores.  Cada uma quer ter o vestido mais bonito. As arvores também se enfeitam. Aos poucos, os dias vão ficando mais ensolarádos e, suavemente, o sol preenche mais horas do dia. As pessoas se alegram, ficam mais calorosas, passam mais tempo ao ar livre. E o ciclo continua.




Vale a pena conferir Jorge Bem e Arnaldo Antunes cantando a música  As Árvores , do albúm Vivo Lá Em Casa - 2010. Segue o link: http://www.youtube.com/watch?v=7tHs-fKFKJw

       


quinta-feira, 18 de abril de 2013

Por que ou para quê criar um blog?

A pergunta parece um tanto filosófica. No entanto, objetiva deixá-lo mais claro para mim mesmo. De uma forma simples, o que me move é a vontade ou necessidade de escrever. Escrever para viver com mais profundidade os dias aqui nessa empreitada que escolhi para 2013.

A idéia veio de uma pessoas querida, relembrada e reforçada ao ler um belo texto em um blog de um amigo da faculdade.

Essa pode ser uma forma garimpar pedras preciosas no cotidiano, que por vezes passam tão despercebidas. Também uma maneira de aquietar a saudade de tantas pessoas, lugares e momentos que, às vezes, quer apertar.

Certamente se houver mais alguem para me acompanhar nesse garimpo será bem vindo. Mas o que me move, no momento, é o instinto de sobrevivência, por tanto escrevo primeiramente para mim. Não penso tratar-se de um ideal egoísta, pois se isso fizer de mim um alguém melhor isso se refletirá na forma de eu tratar os demais.

Talvez com um pouco de atraso, pois já estou há mais de 3 meses nos EUA, aqui começo oficialmente o meu diário de bordo. Tentarei colocar fotos para ilustrar a viagem. Comentarios são bem vindos. Um abraço para os leitores (plural por que já tem eu e a Clara Cela...hehehe)